domingo, 11 de novembro de 2012

TRATAMENTO DE ESPONDILOLISTESES NO PILATES




INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA COM MÉTODO PILATES NO ATENDIMENTO DE UMA PACIENTE COM DIAGNOSTICO CLÍNICO DE ESPONDILOLISTESE DE GRAU I: ESTUDO DE CASO

PILATES METHOD WITH PHYSIOTHERAPY INTERVENTION IN CARING FOR A PATIENT WITH CLINICAL DIAGNOSIS OF SPONDYLOLISTHESIS OF GRADE I: CASE STUDY

Natássia Fernandes Costa Lima[1]
Théo Abatipietro Costa[2]
Alessandra Andréa de Castro Oliveira [3]

RESUMO

A espondilolistese é uma patologia caracterizada pelo deslizamento anterior de uma vértebra superior sobre a vértebra subjacente. O deslizamento vertebral pode gerar acometimentos sensitivos, motores e neurológicos. O Método Pilates é uma das técnicas de condicionamento físico/mental e terapêutico que vem sendo difundido cada vez mais no Brasil. Sabendo-se dos benefícios que esse recurso terapêutico pode trazer aos pacientes que são tratados e reabilitados com exercícios que seguem seus princípios, o presente estudo objetivou realizar uma intervenção fisioterapêutica através de exercícios de pilates para investigar e demonstrar a eficácia do método no tratamento e reabilitação de uma paciente com espondilolistese de grau I em nível L4-L5. O tipo de estudo adotado na realização desse trabalho foi um estudo de caso, com metodologia qualitativa. A pesquisa foi dividida em 3 etapas:  avaliação fisioterapêutica inicial, intervenção fisioterapêutica utilizando um protocolo de exercícios de pilates pré-estabelecidos em aparelhos específicos, e avaliação fisioterapêutica final. Obteve-se como resultado: melhora do quadro álgico da paciente, melhora da mobilidade lombossacra, melhora da mobilidade global e a paciente não apresentou mais sinais de compressão nervosa (nervo ciático) à esquerda, além disso, a paciente aprimorou sua conscientização corporal e seu alinhamento postural. Através do estudo realizado, concluiu-se que o método pilates foi um recurso terapêutico eficaz no tratamento da paciente com espondilolistese.

PALAVRAS-CHAVE: Espondilolistese. Fisioterapia. Modalidades de fisioterapia.

ABSTRACT

The spondylolisthesis is a condition characterized by a landslide earlier vertebra on the vertebra above beneath. The creep vertebral can generate involvement sensory, motor and neurological problems. The Pilates Method is one of the techniques of physical / mental and therapeutic that has been increasingly widespread in Brazil. It should be of therapeutic benefit that this feature can bring to patients who are treated and rehabilitated in the exercises that follow its principles, this study aimed to achieve a physiotherapy intervention through the Pilates exercises to investigate and demonstrate the effectiveness of the method in the treatment and rehabilitation of a patient with spondylolisthesis of grade I -level L4-L5. The type of study done the completion of that work was a case study, with qualitative methodology. The research was divided into 3 stages: initial assessment physiotherapy, speech physiotherapy using a protocol of Pilates exercises of pre-established in specific apparatus, physiotherapy and final assessment. Were obtained as a result: the improvement of patient pain, improved mobility lumbosacral, improved mobility and overall patient showed no more signs of nerve compression (sciatic nerve) to the left, moreover, the patient improved his awareness and his body alignment posture. Through the study, concluded that the Pilates method was an effective therapeutic use in treating patients with spondylolisthesis.

KEY WORDS: Spondylolisthesis, Physiotherapy, Modalities of Physiotherapy.

INTRODUÇÃO

O Método Pilates é uma das técnicas de condicionamento físico/mental e também terapêutico que vem sendo difundido cada vez mais no Brasil, estudado, e utilizado como recurso para intervenção fisioterapêutica nos dias atuais, devido seus inúmeros benefícios proporcionados aos seus praticantes.
É um método diferencial que está conquistando as pessoas de todos os biótipos, de crianças a adultos e idosos, atletas, dançarinos e sedentários, pessoas com disfunções osteomioarticulares, portadoras de patologias reumáticas, ortopédicas, neurológicas, mulheres que apresentam incontinência urinária, gestantes e também por aqueles que buscam manter a boa saúde com um bom condicionamento físico e mental. 
Os exercícios de Pilates se baseiam na combinação de técnicas orientais e ocidentais, pois ao realizar os movimentos é necessário concentração, equilíbrio, percepção, controle corporal, flexibilidade (aspectos integrantes da cultura oriental) para desenvolver força muscular, ganhar resistência e melhorar o tônus muscular (aspectos integrantes da cultura ocidental).
São mais de 500 séries de exercícios que podem ser realizados no solo, com auxílio de equipamentos, como as bolas, discos entre outros e também podem ser executados em aparelhos específicos.
Os benefícios alcançados com o Método Pilates são inúmeros, os principais são: melhora da concentração, equilíbrio corporal, coordenação motora, alinhamento postural, flexibilidade articular e alongamento muscular, melhora do tônus muscular, ganho de força e resistência muscular e o essencial da técnica conscientização corporal, dessa forma ocorre à interligação corpo e mente, o praticante passa a utilizar toda sua musculatura corporal de forma correta, evitando o desenvolvimento de patologias relacionadas á biomecânica corporal incorreta, com isso os exercícios de pilates, previne patologias e promove saúde.
No tratamento de patologias que acometem a coluna, como por exemplo, a lombalgia (dor na região lombar), já foi evidenciada, através de estudos, os benefícios da intervenção fisioterapêutica com exercícios de Pilates.
Sabendo-se que o surgimento de patologias traumato-ortopédicas da coluna se deve aos desequilíbrios biomecânicos desse segmento, é necessária sempre uma intervenção eficiente, para restabelecer a utilização correta da coluna e sua integridade para evitar seqüelas que as devidas patologias que acometem a coluna podem resultar.
A espondilolistese é uma patologia da coluna vertebral, que pode gerar acometimentos sensitivos, motores e neurológicos quando não tratada, ou também não tratada com medidas terapêuticas eficazes. Neste caso, pode-se sugerir uma intervenção fisioterapêutica com o Método Pilates, dependendo do estágio de acometimento da patologia, para reabilitar os pacientes que apresentam os comprometimentos gerados pela espondilolistese.
Como há poucas evidências na literatura científica brasileira da aplicação do Método Pilates em patologias da coluna vertebral, o presente estudo pretende realizar uma intervenção fisioterapêutica através de exercícios de pilates para investigar e demonstrar a eficácia do método no tratamento e reabilitação de uma paciente com espondilolistese de grau I em nível L4-L5 e acrescentar conhecimentos sobre o Método Pilates e a patologia. 

ESPONDILOLISTESE

O termo espondilolistese significa o escorregamento ou deslizamento anterior de uma vértebra superior sobre a vértebra subjacente, por exemplo, L4 sobre L5, L5 sobre S1 (1-2).
De fato, a espondilolistese significa apenas “escorregamento vertebral” e deve ser distinguida da espondilólise, que significa “vértebra quebrada” (3). Pode ser congênita ou adquirida (2).
De acordo com Dandy (3), a espondilolistese quanto a sua etiologia pode ser classificada em cinco tipos: ístmica, displásica, degenerativa, traumática e patológica. E dependendo da gravidade do deslocamento da vértebra, a espondilolistese é classificada conforme a Escala de Meyerding como sendo de Grau I: quando ocorre até 25% de deslizamento; Grau II: quando ocorre entre 26% a 50% de deslizamento; Grau III: quando ocorre de 51% a 75% de deslizamento; Grau IV: quando ocorre de 76% a 100% de deslizamento (1,4).
Em paciente com espondilolistese o deslizamento vertebral pode ocorrer aos poucos, mas o aparecimento dos quadros dolorosos pode ser repentino e violento (1) (CAILLIET, 1994). Os sinais e os sintomas irão depender do grau de deslocamento e da faixa etária (5).
Segundo Valença (2) os quadros dolorosos podem ser assintomáticos em alguns pacientes. A dor acentua-se na posição ortostática e ao deambular, diminui ou alivia na posição deitada e pode estar associada à lombociatalgia, nesses casos o teste de Laségue é positivo.
Quando há um deslizamento em graus maiores será palpável uma proeminência óssea no segmento lombo-sacro afetado (2), “... havendo também um aumento da lordose lombar com uma retroversão da pelve” (4).
Um dos aspectos físicos característicos do paciente é que em posição ortostática eles fazem à flexão dos joelhos e ao tentar estendê-los o tronco flexiona-se mais para frente e as nádegas ficam aplainadas. A mobilidade da coluna lombar apresenta-se diminuída. O reflexo do tendão de Aquiles diminuído também (2,4).
O tratamento fisioterapêutico, considerado como conservador, visa minimizar os sinais e sintomas que o paciente apresenta. A intervenção fisioterapêutica segue-se com orientações, quanto a restrições de alguns esportes e atividades da vida diária que exijam esforço da coluna e que possa prejudicar ainda mais as articulações envolvidas com a lesão; com prescrições de coletes (Putti, Williams ou OTLS) e cintas; nos casos dolorosos condutas que buscam a analgesia, como o calor superficial e profundo (ondas curtas, ultra-som, infravermelho, forno de bier, entre outras) e também as correntes elétricas (eletroterapia) analgésicas (TENS, Corrente Interferêncial) para aliviar os quadros álgicos do paciente; a cinesioterapia, uma conduta muito utilizada para a melhora do alongamento axial, lombar e de ísquios tibiais e fortalecimento abdominal (série de willans) para diminuir a lordose e consequentemente o ângulo sacral, reeducar a postura do paciente e evitar a progressão do escorregamento vertebral (1,2,4)
A hidroterapia, a RPG (Reeducação Postural Global), entre outras modalidades terapêuticas, como também o Método Pilates que irá ser exposto no decorrer dessa pesquisa como formas de intervenção, poderão trazer a melhora da qualidade de vida desses pacientes, pois todas essas condutas podem ser utilizadas para evitar o tratamento cirúrgico (2).
A progressão grave da dor e o comprometimento neurológico são indicações para intervenção cirúrgica. Isso só acontece quando o tratamento conservador não for mais eficaz. O mero achado de um defeito na porção interarticular não é indicação cirúrgica, pois muitos pacientes com defeitos encontrados com estudos radiológicos não apresentam sintomas porque o defeito é mantido seguramente pela fixação fibrosa (1). A cirurgia de GILL onde se faz à retirada do arco posterior e artrodese do póstero-lateral com placas e parafusos pode ser a última solução no tratamento desses pacientes (2).

MÉTODO PILATES

Quando criança o alemão Joseph Humbertus Pilates (1880 – 1967), sofria por ter uma saúde muito frágil, era portador de raquitismo, asma e febre reumática. Com determinação e persistência, para melhorar sua qualidade de vida, estudou sobre várias técnicas e modalidades, tais como, ioga, mergulho, esqui, técnicas gregas e romanas, e o fisioculturismo. Com isso, adquiriu um grande conhecimento sobre os sistemas anatomofisiológicos e cinesiológicos do corpo humano e desenvolveu seu próprio método, conhecido internacionalmente nos dias atuais como Método Pilates (6-7).
O crescimento do método de “condicionamento físico integral” pode ser explicado pelos inúmeros benefícios que oferece: redução de dores e estresse, alongamento, flexibilidade e fortalecimento muscular, corrige a má postura, melhora o equilíbrio estático e dinâmico do corpo, a coordenação motora, promove a conscientização corporal e o condicionamento físico e mental (8-10).
Pilates teve como base em seu trabalho a contrologia “centro da força” que compreende os músculos abdominais, paravertebrais inferiores (lombares) e os glúteos. Defende que as lesões ocorrem por desequilíbrio entre esses músculos que são responsáveis pelo equilíbrio estático e dinâmico do corpo humano, uma vez fortalecidos permitem a harmonia dos movimentos do corpo e previnem lesões ortopédicas (6).
Através disto, Pilates se baseou em oito princípios básicos: a respiração, a concentração, o controle, precisão e coordenação, isolamento e integração, centralização, fluxo de movimento, respiração e rotina. Esses princípios foram desenvolvidos para orientar seus exercícios (11).
O objetivo principal do Método Pilates é proporcionar conscientização corporal. De forma que todos poderão utilizar seu corpo de maneira mais eficiente, aprimorando o desempenho nas atividades de vida diária e profissional (12).
Para Rodrigues (6), os objetivos do método são: fortalecimento muscular global e localizado, ganho e melhora da flexibilidade global, melhora do alinhamento postural, melhora do equilíbrio dinâmico e estático, aprimoração da coordenação motora, melhora do alongamento axial, melhora da capacidade respiratória, relaxamento muscular global, promover propriocepção, promover decoaptação de articulações periféricas, ganho e melhora da consciência corporal.
Existem mais de 500 exercícios desenvolvidos por Pilates, que são desenvolvidos em aparelhos de madeira, com tiras de couro, argola molas e barras de metal. E também outros acessórios, além de variações que podem ser realizadas no solo, cujo nome é “Mat Pilates" (12).
Os exercícios de pilates podem ser realizados no solo utilizando alguns acessórios (Mat Pilates), com aparelhos específicos (Stúdio Pilates) e ou também com auxílio da bola suíça. Os exercícios realizados no solo se caracterizam por serem educativos, ou seja, enfatizam o aprendizado de respiração e do power house o centro da força (13).
Já os aparelhos que são utilizados no método, foram criados pelo próprio Joseph Pilates e têm como objetivo facilitar os movimentos que são realizados. Eles possuem molas (exceto o Ladder Barrel) que geram resistência gradual ao fortalecimento dos músculos necessário ao movimento funcional. Os aparelhos utilizados no Método Pilates são: Studio Reformer, Clinical Reformer, Trapézio ou Cadillac, cadeira Combo, cadeira Wunda, Ladder Barrel e Unidade de Parede (Wall Unit, um versão simplificada do Trapézio) (7).
Como já descrito anteriormente as molas é que fornece a resistência aos exercícios realizados nos aparelhos. A intensidade é classificada através das cores das molas, em ordem decrescente de intensidades elas podem ser preta, vermelha, verde azul e amarela. Além de promover resistência nos treinamentos, elas também servem como assistência durante os movimentos (13).
Os níveis técnicos de aprendizado dos exercícios de pilates são divididos da seguinte maneira: nível básico, nível intermediário e nível avançado (14).
Os exercícios são realizados sempre de forma ativa. É necessário que o praticante controle os equipamentos ao executar os exercícios. Cada exercício deve ser executado em média de seis a oito vezes (repetições), baixas repetições e alta concentração “... pois o que se busca não é a massa física, mas sim a execução de forma lenta, para que se tenha tempo de organizar o tronco, trabalhando a musculatura de forma pesada” (15). Dessa forma observa-se que o importante ao desenvolver os exercícios de pilates, não é a quantidade de repetições e sim a qualidade da execução de cada movimento.
Os exercícios de pilates quando praticados com freqüência traz os seguintes benefícios: melhora do condicionamento muscular global, principalmente da musculatura abdominal, alongamento e flexibilidade, deixa as articulações com mais mobilidade, aprimora a coordenação e desenvolve a consciência corporal, ajuda a descomprimir lesões na coluna; desenvolve as musculaturas que suportam a coluna, diminuindo as dores crônicas dessa região; aumenta a capacidade de contração muscular; melhora a densidade óssea; melhora a postura global, diminui a tensão a fadiga e auxilia no combate ao estresse físico e mental; aumenta a capacidade cardiovascular e respiratória, desperta, revitaliza e gera uma sensação de suavidade e leveza; aprimora o desempenho de atletas e dançarinos; reduz o percentual de gordura corporal; melhora a circulação; reduz a tensão pré-menstrual (9).
Os benefícios do Método Pilates foram colocados à prova em hospitais dos EUA, eles adotaram seus princípios, utilizaram alguns equipamentos específicos do método e o resultado observado foi à redução do tempo de internação dos pacientes (7).
“Utilizando à biomecânica da consciência corporal e do controle motor, os exercícios de Pilates, alongam, flexibilizam, tonificam e transforma o corpo, enquanto corrige a postura” (7). Além disso, não gera desgaste articular, promove a profilaxia e/ou o tratamento de certas patologias, especialmente as ocupacionais (6).
“Uma boa condição física é o primeiro requisito para ser feliz”. Esta frase do mestre J.H. Pilates resume à perfeição do programa de treinamento físico e mental criado e desenvolvido por ele (14).

METODOLOGIA


O tipo de estudo adotado na realização desse trabalho foi um estudo de caso, com metodologia qualitativa, sendo a modalidade metodológica mais adequada para a realização deste estudo, pois busca novas formas de realizar um questionamento de um fenômeno pela ótica científica, que não se baseia somente no paradigma positivista, indo além do que há de comum em relação a um fenômeno, mas o que há de peculiar, de “como ocorre” o fenômeno em estudo e sua manifestação (16).
Para participar desta pesquisa, foi selecionada uma paciente com 61 anos de idade, do gênero feminino, com diagnóstico clínico de espondilolistese de grau I em nível L4-L5 que se queixava de lombalgia bilateral com irradiação da dor para o membro inferior esquerdo.
    Foi considerado como critério de exclusão o uso de medicamentos pela paciente durante todas as etapas de intervenção fisioterapêutica, pois qualquer medicação poderia interferir nos resultados dessa pesquisa.
O estudo foi realizado nas dependências de um consultório de fisioterapia com stúdio de pilates, na cidade de Ourinhos-SP.

PROCEDIMENTOS

Seguindo a resolução específica do conselho nacional de saúde (nº 196/96), a paciente foi informada detalhadamente sobre os objetivos da pesquisa e os procedimentos serem utilizados. Sendo assim, a paciente assinou um termo de consentimento segundo as determinações da Resolução 196/96 concordando em participar de maneira voluntária do estudo, declarando conhecimento total quanto ao conteúdo do estudo e dos seus direitos em poder desistir da pesquisa quando desejasse e de garantir o sigilo de sua identidade e de qualquer informação obtida que não quisesse expor na pesquisa.
A pesquisa foi dividida em três etapas: Avaliação Inicial, Intervenção Fisioterapêutica e Avaliação Final.
A avaliação inicial foi realizada através de uma ficha de avaliação para obtenção dos seguintes dados: dados pessoais, anamnese e exame físico.
O exame físico era constituído de testes específicos, tais como, de escala visual analógica (EVA), para mensurar a intensidade da dor da paciente e também de testes específicos, tais como, o Teste de Laseg, Teste de Schober e Teste Dedos Solo (flexão anterior de tronco). Esses testes serviram como parâmetros para obtenção de resultados da pesquisa.
Para intervenção fisioterapêutica foi aplicado um protocolo de exercícios de pilates dos níveis básico (R1-Nível 1), intermediário (R2-Nível 2) e avançado (R3-Nível 3), utilizando os aparelhos específicos do método.
Na avaliação fisioterapêutica pós-intervenção, foi reavaliada a dor da paciente através da escala visual analógica de dor e foi realizado os testes específicos de Schober, Laségue e Dedos solo para detectar quais os benefícios do Método Pilates no quadro patológico da paciente após a intervenção fisioterapêutica.
Ao todo foram realizadas 20 sessões de fisioterapia, duas sessões por semana, nas terças-feiras e quintas-feiras, com duração de 50 minutos cada sessão, entre os meses de maio, junho e julho de 2008.

MATÉRIAS E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS


            Os materiais utilizados para realização de alguns testes específicos foram: fita métrica, lápis dermatográfico e uma escala analógica visual.
            Para execução dos exercícios de pilates foram utilizados os aparelhos Reforme, Trapézio e Cadeira Combo.

AVALIAÇÃO PRÉ-INTERVENÇÃO

            Foi constatado na avaliação fisioterapêutica inicial que a paciente apresentava anteriorização pélvica, hiperlordose lombar e retificação da região torácica. Apresentou desequilíbrio muscular dos músculos responsáveis pela dinâmica do tronco e da pelve. O músculo reto abdominal e os músculos oblíquos internos e externos bilateral estão mais fracos enquanto os músculos paravertebrais principalmente em região lombar e os músculos ílio psoas estão mais tensionados.
Nos testes específicos realizados a paciente qualificou seu quadro doloroso em região lombar bilateral de acordo com a escala analógica visual, dor de intensidade 7. O teste de laségue obteve-se resposta positiva à esquerda, indicando compressão nervosa ciática. A paciente referiu dor irradiada no membro inferior esquerdo até a região posterior medial da coxa. Em relação aos testes de mobilidade global e da região lombossacra, foi observado que a paciente apresenta uma mobilidade consideravelmente boa para seu quadro patológico. No teste dedos solo a paciente conseguiu alcançar as pontas das 2°, 3° e 4° falanges bilateral no chão. No teste de schober ela obteve 4 cm de mobilidade lombossacra.


RESULTADOS


            A paciente iniciou o tratamento realizando os exercícios de pilates pré-estabelecidos do nível 1. Após a 5° sessão a paciente notou grande melhora do seu quadro de dor, ela através da escala analógica visual classificou sua dor com intensidade 2. Ao final da 7° sessão a paciente relatou não estar mais sentindo dores locais e irradiadas, foi aplicado então o teste de laségue para confirmação, e a resposta obtida ao teste foi negativa. A paciente não refere mais dor irradiada no membro inferior esquerdo. Sendo assim, a partir da 8° sessão foi iniciado os exercícios do nível 2. Ao decorrer das sessões a paciente não referiu mais quadros álgicos, sua desenvoltura ao realizar os exercícios foi aos poucos se aprimorando , com isso, na 14° sessão a paciente começou a executar também os exercícios do nível 3.
Com o término da intervenção fisioterapêutica com exercícios de pilates stúdio, a paciente foi reavaliada e observou-se que ela não apresentava mais quadros álgicos e também sinais e sintomas de compressão nervosa ciática. No teste de schober sua mobilidade lombossacra inicial era de 4 cm agora passou a ser 4,5cm, ganhou 0,5 de mobilidade lombossacra, e a sua mobilidade global apresentou também resultados satisfatórios, antes a paciente encostava as pontas das 2°, 3° e 4° falanges bilateral no chão, após intervenção a paciente conseguiu colocar as palmas das mãos inteiras no chão, realizando também leve flexão bilateral do punho.

 

DISCUSSÃO


Avaliando a paciente notou-se que esta apresentava sensibilidade dolorosa na coluna lombar com irradiação para o membro inferior esquerdo até terço medial da coxa na região posterior.  De acordo com Thomson, Skinner & Piercy (17), a dor radicular referida nos membros inferiores pode compor o quadro clinico dos pacientes com espondilolistese. Esse quadro apresentado pela paciente é caracterizado por Vieira Filho & Carneiro (18), como lombociatalgia, eles acrescentam que essa radiculopatia pode chegar até a região do calcanhar dependendo do nível segmentar.
Cailliet (1), afirma que em paciente com espondilolistese o deslizamento vertebral pode ocorrer aos poucos, mas o aparecimento dos quadros dolorosos pode ser repentino e violento. SAKAKI (5) descreve que, com a progressão da patologia, a dor aparecerá nas nádegas e nas porções posteriores da coxa, esse sintoma indica que o segmento vertebral acometido apresenta-se instável, acrescentando ainda que a dor irradiada, tipo ciática, como é o caso, pode acometer um ou dois membros, com ou sem sinais neurológicos, e pode ser causada por irritação da raiz nervosa pela massa fibrocartilaginosa que se forma no defeito.
            Para confirmação da compressão nervosa ciática foi realizado na avaliação inicial da paciente o teste de laségue, no qual foi obtida resposta positiva. Segundo Valença (2), nesses casos o teste de laségue é sempre positivo.
Outro achado literário sobre o quadro clínico de pacientes com espondilolistese, e que também pode ser observado na avaliação inicial da paciente, é que eles podem apresentar diminuição da mobilidade lombossacra (19). Como observado e analisado, a paciente apresentava uma mobilidade lombossacra boa, mas que poderia ser melhorada através dos exercícios de pilates.
Tanto o teste de schober quanto o testes dedos solo foram utilizados para verificar se a paciente apresentava ou não diminuição da mobilidade lombossacra e da mobilidade global. Nos dois testes a paciente apresentou uma mobilidade consideravelmente boa, mas com o alívio da dor, melhora da flexibilidade e alongamento de tronco e de membros inferiores teria uma mobilidade melhor do que a inicial.
O Método Pilates, é um recurso terapêutico que tem como objetivo: relaxamento muscular global; ganhar e melhorar da flexibilidade global; fortalecer as musculaturas globais e localizadas, melhorar o alinhamento postural; melhorar o alongamento axial; ganhar e melhorar a consciência corporal (6).
Esses também foram os objetivos traçados no tratamento da paciente, por isso o método pilates foi benéfico a ela.
Durante o tratamento pode-se perceber que a paciente não apresentou dificuldades ao realizar os exercícios, sempre executava com grande controle, concentração e precisão. Gradualmente ela conseguiu aprimorar sua conscientização corporal.
A partir do momento que a paciente começou a utilizar corretamente à musculatura abdominal e a musculatura de paravertebrais, o tronco readquiriu um equilíbrio entre as musculaturas. Esse reequilíbrio muscular fez com que a postura e o alongamento axial da paciente melhorassem ainda mais, e tanto as dores locais quanto irradiadas foram cessadas.
Rodrigues (6) acrescenta em seu estudo sobre desequilíbrios musculares e exercícios de pilates:

[...] por se tratar de exercícios que buscam o tensionamento e estiramento dos grupos musculares, em detrimento de força e potência. Nesse caso, busca-se promover o alongamento ou relaxamento de músculos encurtados ou tensionados demasiadamente e o fortalecimento ou aumento do tônus daqueles que estão estirados ou enfraquecidos. Portanto, diminuem-se os desequilíbrios musculares que ocorrem entre agonistas e antagonistas e são responsáveis por certos desvios posturais e problemas ortopédicos [...].

O autor anteriormente citado, também destaca que “a melhora da postura é um dos pontos fortes do método”. Pois além dos músculos do “powerhouse”, é possível trabalhar as musculaturas responsáveis pela estática e dinâmica corporal, musculaturas profundas e superficiais, responsáveis pela manutenção postura. Quando fortalecidas, passam a ser utilizadas corretamente, sem maior desgaste de energia.
Um estudo realizado sobre a abordagem fisioterapêutica do método pilates, reportou que “o método pilates produz resultados significativos na recuperação e prevenção de patologias, dessa forma, deve ser encarado como mais um procedimento seguro dentro de inúmeros recursos fisioterapêuticos já existentes”  (7).

CONCLUSÃO


Concluiu-se que o protocolo exercícios pré-estabelecido utilizando o método pilates foi eficaz no tratamento e reabilitação da paciente com espondilolistese. Sendo assim, o método pilates pode ser um recurso a mais na reabilitação de pacientes com acometimentos gerados pela espondilolistese.
Em relação às limitações encontradas para a realização deste estudo as mesmas são referentes ao fato de que apenas uma paciente se submeteu a intervenção fisioterapêutica, e também por haver uma grande escassez de material teórico sobre o método pilates, principalmente, no que diz respeito do mesmo como recurso de intervenção fisioterapêutica no tratamento conservador da espondilolistese de grau I.
 Assim espera-se que o presente estudo seja utilizado como fonte de inspiração para novas pesquisas sobre o método pilates como forma de intervenção fisioterapêutica no tratamento conservador da espondilolistese, de maneira a suprir a carência de material científico e teórico nessa área da ciência da fisioterapia. 


REFERÊNCIAS

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[1] Graduado em Fisioterapia, pela Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos, FAESO, Brasil;

[2] Bolsista do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação pela Universidade Nove de Julho-SP;

[3] Graduada em Fisioterapia, pelo Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, UNISALESIANO, Brasil. Especialista em Osteopatia.

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