Hidratação Pós-Treino
Principais tópicos
- A reidratação é o principal ponto do processo de recuperação
após o exercício, porém pouca atenção tem sido dada sobre a necessidade de
reidratar adequadamente para otimizar o desempenho em uma segunda série de exercícios.
- Já está convenientemente estabelecido que o desempenho do organismo
desidratado é diminuído, tanto nos exercícios de alta intensidade quanto nos de
resistência. Existe, também, a possibilidade de ocorrer o mal estar devido ao
calor, quando o indivíduo inicia os exercícios desidratado.
- A reidratação requer a reposição da água perdida, mas a ingestão de água
potável não é a via mais efetiva para promover a reidratação. A bebida deve
conter quantidades moderadas de sódio e também pequenas quantidades de potássio.
A ingestão de grandes volumes de bebidas sem eletrólitos causa uma diminuição
na osmolalidade plasmática que suprime a sede e, também, estimula a produção de
urina.
- A elevada eliminação urinária obriga a ingestão de um volume de líquidos
superior a aquele eliminado através da sudorese. A palatabilidade estimula a
ingestão de líquidos.
Introdução
A decisão do COI para Atlanta sediar os Jogos Olímpicos de 1996
nos meses de julho a agosto, chamou a atenção para um problema do bem estar,
treinamento e competição em ambiente quente e úmido. Durante esse período, em
Atlanta, a temperatura durante o dia varia de 21ºC a 31ºC e a umidade relativa
do ar varia de 50% a 90%. O efeito estressante do calor e a desidratação
provocam implicações em espectadores, juizes e competidores. Para muitos
competidores de provas de resistência em meio externo, aquelas que tem duração
superior a 20-30 min., os resultados foram prejudicados. Estudos recentes em
condições laboratoriais demonstram que o tempo de resistência em cicloergômetro,
quando a temperatura ambiente foi mantida em 11ºC, a intensidade do exercício
foi mantida durante 92 min., porém à temperatura de 21ºC este tempo ficou em 83
min. e,em apenas 53 min. quando a temperatura foi de 30ºC (Galloway e Maughan,
1995); nas condições ambientais prevalentes no verão de Atlanta, a redução na
resistência seria ainda maior.
A maneira dos atletas conviverem com o calor e a umidade relativa do ar
demonstrou como os fatores climáticos interferem no desempenho. O sucesso do atleta
está, geralmente, na estratégia empregada, em fatores comportamentais e
psicológicos, além da aclimatação e da reidratação. A estratégia para evitar o
super-aquecimento inclui movimento em ambientes fechados, com ar condicionado,
ambientes frios, que exigem técnicas especiais de aquecimento, assim como,
elaboração de vestimentas adequadas. O mecanismo fisiológico mais adequado é o
da aclimatação, e consiste em ativar precocemente o processo de sudorese,
aumentando a sua produção. O suor, normalmente, é o fator mais efetivo na
remoção do calor, mas, com freqüência, pode ocasionar a desidratação e como
conseqüência, a hipertermia. A aclimatação provoca um aumento na sudorese que,
conseqüentemente, aumenta a necessidade de reposição de fluidos.
Muitos atletas categorizados em seus esportes pelo peso, incluindo,
halterofilistas, pugilistas, lutadores que se utilizam da desidratação para
manterem seus pesos devem ser orientados pelos médicos para não agirem dessa
maneira. Mesmo considerando os malefícios em competir com uma deficiência de
água no corpo, os treinadores geralmente orientam os atletas para competirem em
categorias de pesos inferiores, pois, este fato acarreta uma vantagem para o
atleta. Nessas circunstâncias, a reidratação após a pesagem é muito importante.
A desidratação associada a hipertermia é dos principais problemas que limitam a
capacidade atlética. Na prática de exercícios prolongados, especialmente,
quando a temperatura e a umidade relativa do ar estão altas, a desidratação
parece ser inevitável porque a reposição de fluidos não acompanha a perda pela
sudorese. O resultado reside na maior perda da capacidade física, quando o
atleta inicia a competição em estado de hipoidratação. Mesmo em eventos de
curta duração, onde ocorre produção de suor, o desempenho fica prejudicado
quando o atleta não está convenientemente hidratado no início da competição
(Sawka e Pandolf, 1990). Entretanto, existem diversas situações em que os
atletas encontram dificuldades para se hidratarem plenamente. Estas incluem
particularmente:
1.
A competição ocorre em ambientes quentes ou quando a sudorese é
muito intensa.
2. Várias competições e/ou sessões de treinamento ocorrem no mesmo dia.
3. Em condições categorizadas pelo peso, quando os atletas, deliberadamente, se
desidratam para perder peso.
4. A água corporal em indivíduos saudáveis é conservada por fatores que
controlam a ingestão e a eliminação de água e dos eletrólitos. O sistema
vasopressina e renina-angiotensina-aldosterona é o mecanismo hormonal que
controla a osmolalidade, o conteúdo de sódio e o volume de líquido
extracelular, mantendo a regulação do balanço hídrico.
No organismo ocorre uma perda contínua de água pela pele e trato respiratório,
além da perda da intermitente através dos rins e trato gastrintestinal. Os
rins, através do controle hormonal regulam a excreção excessiva de urina. A
ingestão de água ocorre através dos alimentos e bebidas, com a sensação de sede
que é o fator primeiro no controle da ingestão. A ingestão diária de fluidos,
via de regra é excessiva e o balanço é mantido através da eliminação de urina
(Engell e Hirsch, 1991) mas, em situações de aumento agudo nas perdas de
fluidos, a resposta, através da sensação de sede pode ser retardada e pode
ocorrer uma desidratação.
Na prática de exercícios em condições de calor, acompanhada de grandes perdas
de suor, o organismo tende a controlar a elevação de temperatura para que esta
não ocorra. Quando o calor e a umidade ambiental são elevados, mesmo em pessoas
com estilo de vida sedentária, ocorre um significativo aumento no
reaproveitamento de água. O indivíduo sedentário, vivendo em um clima
temperado, necessita de cerca de 2 L de água por dia; quando o clima é quente e
úmido, a necessidade sobe para 4/6 Ls. Para um atleta que treine intensamente
por de 2 a 3/h por dia, em um clima quente, o reaproveitamento da água chega a
ser de 5 a 10 L e as necessidades chegam a quantidades da ordem de 15 a 18
L/dia, conforme já foi observado em situações extremas. Existe uma clara
dificuldade em determinar na prática o volume que deve ser ingerido. Durante os
primeiros dias de exposição ao calor ambiente, atletas oriundos de países de
clima temperado, encontram dificuldades em aumentar a ingestão de fluidos para
compensar as perdas; estes atletas ficam em uma situação de hipoidratados até
que o equilíbrio se restabeleça.
A sudorese durante exercícios intensos em ambiente quente chega a ser de 2 a 3
L/hora. Mesmo em clima temperado, as perdas de fluido pela sudorese pode ser
bem maior que aquela que muitos atletas acreditam ter sido. Por exemplo, uma
partida de futebol jogada em condições relativamente frias (cerca de 10ºC) a
sudorese pode ser tão elevada quanto de 2 L ao final de 90 min. (Maughan e
Leiper, 1994).
A água não é a melhor bebida a ser consumida após o exercício como repositora
hídrica (Costill e Sparks, 1973; Gonzáles - Alonso et Allü, 1992; Noze et al.,
1988); a reposição de eletrólitos, assim como de água é essencial para a
reidratação. O sódio, seguramente é o íon mais importante perdido pelo suor,
assim como é o mais abundante no líquido extra celular. O sódio alimentar é
importante no processo de reidratação, devido ao seu papel no líquido extra
celular. Se quantidades suficientes de sódio e água são ingeridas, a
osmolalidade plasmática e a concentração de sódio não declinam, porém este fato
pode não ocorrer se a ingestão for apenas de água. Como resultado, os níveis de
vasopressina e aldosterona são mantidos e, uma excreção urinária excessiva pode
ocorrer, mesmo quando um balanço hídrico negativo intenso é prevenido. Não há
restrições na ingestão de fluidos, quando a osmolalidade plasmática e o sódio
circulante são mantidos.
Quando não ocorre restrição à ingestão de fluidos, a osmolalidade plasmática é
mantida, e o sódio desempenha um papel fundamental na manutenção da vontade de
beber; desta forma fica assegurada a ingestão de volumes adequados de líquidos.
O potássio é o íon mais encontrado no fluido intracelular, porém, as perdas
deste íon pela sudorese são pequenas, quando comparados com o total de potássio
do organismo. Todavia, (Nadel et al 1990) sugerem a inclusão deste íon nas
bebidas consumidas após uma sudorese intensa, visando auxiliar a reidratação,
aumentando a retenção de água no espaço intracelular.
Em uma série de estudos, procuramos verificar a real necessidade de reidratar o
organismo e prepara-lo para uma nova série de atividades, quer como treinamento
ou competição. Foram estudados diferentes aspectos, como o conteúdo de
eletrólitos, o volume de líquido ingerido, o consumo conjunto de líquidos e
alimentos, e o efeito da ingestão de álcool na reidratação. A interação entre
palatabilidade das bebidas e o conteúdo de eletrólitos foi feito com um grupo
de voluntários incluindo mulheres para verificar os efeitos em diferentes fases
do ciclo menstrual.
Efeitos da composição da bebida
A importância da presença de sódio na bebida consumida após uma
desidratação provocada equivalente a 1,9% da massa corporal foi estudada em 6
homens em jejum, porém plenamente hidratos (Maughan e Leiper, 1995). Após a
desidratação os indivíduos consumiram bebidas com concentrações de sódio
equivalentes a 2.26,52 e 100 mmol/L por um período 30 min. iniciado 30 min.
após o término dos exercícios. Para justificar esses valores, devemos salientar
que os refrigerantes contém menos de 2 a 3 mmol de sódio por L, as tradicionais
bebidas para esportistas contém cerca de 20 a 25 mmol/L; entretanto, algumas
contém somente 10 a 12 mmol/L; as soluções terapêuticas para reidratação contém
entre 50 a 80mmol/L; a concentração de sódio plasmático é da ordem de 138 a 142
mmol/L. O volume de fluido consumido em cada sessão foi de 1,5 vezes o da massa
corporal perdida durante cada período de exercício, esta quantidade
correspondeu a cerca de 2 L.
Toda urina eliminada durante 5 ½ h após o fim do período de ingestão do líquido
foi coletada e seu volume medido. Deve-se salientar que durante esse período
não ocorreu ingestão de alimentos. Durante o período de recuperação ocorre em
uma perda contínua de água pelo organismo em razão da produção contínua de
urina. Se essa produção é elevada, o organismo rapidamente retorna ao estado de
desidratação, portanto, a reidratação necessita da retenção efetiva de líquidos
ingeridos.
Os resultados desta pesquisa demonstram que o volume de urina produzido em
algumas horas após o exercício foi influenciado pela quantidade de sódio
consumida. O volume de urina eliminado foi maior quando o fluido reidratante
continha menos sódio e a rigor, quando esse teor era inferior a 100mmmol/L.
Considerando o pequeno volume de fluido ingerido normalmente pelo atleta
durante os treinos ou competição, a diferença no balanço hídrico entre as
sessões é relativamente grande; considerando-se que o teor de sódio no suor é
maior, a menor diferença negativa obtida no total de água corpórea foi de 787
ml ao final do período experimental.
A manutenção do volume plasmático é um fator importante para a capacidade
individual ao exercício e, também, para a regulação da temperatura corporal. No
presente experimento, as amostras de sangue coletadas antes e 30 min. após o
período de desidratação (imediatamente antes da ingestão de líquido) e, daí, a
intervalos regulares até completar 5 ½ h após o final do período de
reidratação. O volume plasmático (Dill e Costill, 1974) diminui na desidratação
(cerca de 4%) e aumenta após todas as sessões de hidratação. O aumento é menor
quando ingerido uma bebida com 2 mmol/L; 1 ½ h após o período de ingestão de
líquidos o aumento no volume plasmático foi de 6,8% quando a ingestão de
fluidos foi de 52 a 100mmol/L o volume plasmático teve uma expansão de 12,4%
respectivamente. Não houve significância na diferença de volume plasmático
durante as sessões após 5 ½ h do final do período de hidratação, porém ocorreu
uma forte tendência de relacionar o volume plasmático com o teor de sódio
contido nas bebidas ingeridas.
Num segundo estudo delineado para mostrar o papel do sódio e do potássio no
processo de reidratação, oito homens, voluntários, foram submetidos a um
processo de desidratação até atingir 2,1% da massa corpórea, isto foi feito com
um trabalho intermitente em cicloergômetro e em ambiente quente (Maughan et al,
1994).
Os indivíduos ingeriram uma solução contendo 1,5% de glicose (90 mmol/L); uma
solução de sódio (NaCl, 60 mmol/L), uma solução de potássio contendo 25 mmol/L
de KCl ou uma solução contendo glicose, sódio e potássio. Os líquidos foram
ingeridos durante 30 min., iniciando o período 45 min. após o final do
exercício e o volume ingerido foi semelhante à quantidade de suor perdida. A
quantidade foi de aproximadamente 1,6 L; sendo que durante a experiência não
foi permitida a ingestão de líquidos ou alimentos. Toda a urina excretada foi
coletada desde o final do período de hidratação até 6 h depois.O menor volume
de urina excretada após o período de reidratação ocorreu quando foi ingerida
uma solução contendo eletrólitos e o maior naquela sem eletrólitos.
Durante o período de desidratação, observou-se uma diminuição de 4,4% no volume
plasmático. Após a hidratação, ocorreu um aumento no volume plasmático em todos
os experimentos, porém, observou-se o menor aumento quando foi ingerida a
solução de KCl. Entretanto, 6 h após o final do período de reidratação não
houve diferença entre os diversos grupos, sendo que esta ficou enter 7% a 9%.
Mesmo quando diferentes quantidades de eletrólitos foram consumidas, não houve
diferença entre o fluido ingerido e o retido 6 h após a ingestão das bebidas
que continham eletrólitos. Este fato pode ser devido ao volume ingerido ser
equivalente ao volume de suor produzido, os indivíduos permanecem desidratados
durante toda a experiência, mesmo após o período de ingestão das soluções. Não
houve redução na excreção urinária quando ocorreu a ingestão do soluto contendo
sódio e potássio, porém, quando a ingestão foi da solução contendo apenas sódio
ou potássio separadamente, tal fato ocorreu.
Volume de fluído consumido
Devido à permanente produção de urina, mesmo quando o atleta está
hipoidratado, o volume de bebida ingerida após a sudorese promovida pelo
exercício ou exposição em ambientes quente é sempre maior que a quantidade de
suor formado; é uma tentativa do organismo de restaurar o estado de hidratado.
Para investigar a influência do volume ingerido para a efetiva reidratação, 12
voluntários do sexo masculino exercitaram-se de uma maneira contínua em
ambiente quente, induzindo a uma desidratação equivalente à média de 2,1% da
sua massa corporal inicial (Shirretts et al., 1996). Durante 60 min.,
iniciando-se 30 min. após o término do período de exercício, foi ingerido
fluido na quantidade de 50%, 100%, 150% e 200% do volume de suor perdido, sendo
que 6 indivíduos consumiram uma solução pobre em sódio (23 mmol/L) e 6
ingeriram uma solução relativamente rica em sódio (61 mmol/L) este planejamento
foi feito para verificar o efeito do volume ingerido e do teor de sódio nas
bebidas. Além dessas bebidas, os investigados não beberam nenhum líquido e não
ingeriram nenhum alimento. A urina foi coletada por 6 h após o período de
hidratação.
Durante o período de desidratação ocorreu um balanço hídrico negativo, e com a
ingestão de líquidos, o balanço passou a positivo, somente quando o volume
ingerido foi superior ao de suor perdido. Por exemplo, os indivíduos quando
ingeriram líquido na metade da quantidade de suor perdida permaneceram
hipoidratados. Quando o volume de fluido ingerido foi semelhante ao de suor
perdido, os indivíduos permaneceram hipoidratados, porém, este fato era menos
intenso quando foi ingerida uma solução rica em sódio. Quando os indivíduos
ingeriram o dobro do volume de suor perdido, mas o líquido era pobre em sódio,
eles permaneceram ligeiramente hipoidratados nas 6 h após a hidratação. Os
melhores resultados foram obtidos quando da ingestão da bebida rica em sódio
quer em 150% e 200% do suor perdido. Estes permaneceram hiperidratados nas 6 h
subseqüentes ao período da hidratação.
Consumo de alimentos e fluído
Em algumas situações é possível ingerir alimentos sólidos entre as
sessões de treino ou competição, e este fato deve ser estimulado a menos que
possa ocorrer transtornos gastrintestinais. No intuito de estudar o efeito da
ingestão de alimentos sólidos para a promoção de um estado de reidratação, 8
voluntários (5 homens e 3 mulheres) foram submetidos a uma desidratação
equivalente a 2,1% do peso corporal, depois, durante 60 min. (iniciando-se 30
min. após o final dos exercícios) eles consumiram uma refeição sólida e água
flavorisada ou, uma solução eletrolítica (Maughan et al, 1966a); o volume de
fluido contido na refeição mais a água ingerida foi o mesmo que aquele ingerido
quando foi oferecida a solução eletrolítica. Durante 6 h após o período de
ingestão de alimento e/ou líquido a urina excretada foi coletada.
O volume de urina excretado após a ingestão da refeição e água foi menor do que
aquele obtido quando foi consumida a solução eletrolítica. O volume plasmático
diminuiu em 5,4% após o treinamento e aumentou em todos os casos após a
ingestão; não houve diferenças quando a ingestão foi de alimento-água (11,7±
0,7%) e quando da ingestão somente de bebida eletrolítica (13,2 ± 1,5%). A
quantidade de água consumida em ambos experimentos foi a mesma, porém a
quantidade de eletrólitos na refeição-água foi superior.
Este fato demonstra que o principal fator na restauração de água corporal após
a desidratação está na presença de eletrólitos como o sódio, potássio e outros
íons com carga positiva.
Consumo de álcool
Devido ao já bem conhecido efeito diurético do álcool e da cafeína
é comum a advertência para evitar seu consumo quando a hidratação é a
prioridade. Entretanto, muitos atletas gostam de ingerir essas bebidas em
quantidades elevadas num espaço de tempo relativamente curto, fato comum, pois
uma grande variedade de tipos de bebidas ajudam a estimular o seu consumo. Em
muitos esportes, como os coletivos, a ingestão de álcool é parte cultural da
prática desses esportes e os atletas são resistentes à orientação para evitar
completamente essa prática. Procuramos investigar o efeito da ingestão de
álcool após a prática de exercícios em clima quente, que provocou a
desidratação de cerca de 2% do peso corporal (Shirretts e Maughan, 1995-1996).
Após 60 min. (iniciado 30 min. após o término do exercício) os indivíduos
consumiram uma mistura de limonada com cerveja, comum na Inglaterra (Beer
Shandy) numa quantidade equivalente a 150% do volume de suor eliminado; as
bebidas tiveram apenas alteração no teor alcoólico (0%, 1%, 2% e 4%), os outros
componentes não foram alterados.
O volume de urina excretado nas 6h que sucederam o período de hidratação teve
uma relação direta coma quantidade de álcool ingerida, porém, somente com a
ingestão de mistura contendo 4% de álcool chegou à significância. O nível de
desidratação após o período de exercício foi de 7,6%. Após a reidratação, o
volume plasmático aumentou e o aumento mostrou uma correlação com a quantidade
de álcool ingerida; 6h após o período de reidratação o aumento do volume
plasmático comparado com o período pré-hidratação foi de :0% = 8.1± 1,3%, 1% =
74 ± 1,1%, 2% = 6 ± 1,4% E 4% = 5,3 ± 1,4%.
Consumo voluntário de fluídos
Nos estudos anteriores sempre se procurou fixar a ingestão de um
determinado volume de fluido. Na prática, porém, a ingestão está na dependência
da interação de fatores fisiológicos e psicológicos. Em um estudo objetivando
verificar o efeito da palatabilidade e as substâncias presentes nas bebidas
utilizadas na reidratação após a sudorese, foram utilizados oito homens
exercitados no calor, até perder 2,1% de seu peso corporal (Maughan e Leiper,
1993). 2 h após o término dos exercícios, os indivíduos foram liberados para
beber quanto desejassem de cada uma das bebidas oferecidas. As bebidas
oferecidas em ocasiões distintas foram: a) uma solução para reidratação oral,
b) água carbonatada, c) uma bebida para esportistas e d) uma mistura de suco de
laranja e limonada. Os resultados demonstraram a preferência por c) (bebida
para esportistas) e d (suco de laranja e limão) este fato refletiu a
preferência pela palatabilidade da bebida oferecida. Após o período de
exercício, todos os sujeitos apresentaram um balanço hídrico negativo e após a
ingestão das bebidas apresentaram um balanço positivo. A excreção urinária foi
maior quando da ingestão de uma bebida com baixo teor de eletrólitos e foi
menor após a ingestão da solução reidratante oral. Os resultados deste experimento
demonstraram claramente a importância da palatabilidade no consumo de uma
bebida, e confirmaram também os resultados anteriores nos quais ficou
demonstrado que soluções com teores moderadamente elevados de eletrólitos são
essenciais para a retenção de líquidos pelo organismo.
Efeitos relativos ao ciclo menstrual
A retenção de líquidos é normalmente observada por muitas mulheres
durante seu ciclo menstrual; este fato deve-se à variação na liberação cíclica
dos hormônios esteróides. É possível, entretanto, que as variações relacionadas
com o ciclo menstrual apresentem um efeito agudo no balanço hídrico nas horas
decorridas após a indução de exercícios visando a perda de suor. Para
investigar este fato, 5 mulheres com ciclo normal e que se exercitam foram
utilizadas, até perderem 1,8% da massa corpórea (Maughan et al, 1996). Elas
fizeram este exercício em 3 fases (2 dias antes da menstruação no 5º e 19º dias
após a mesma). Por um período de 60 min. iniciado 30 min. após o período de
exercício, elas consumiram a mesma quantidade de uma bebida. O volume consumido
foi de 150% da perda de suor, e a bebida foi uma bebida isotônica para
esportista encontrada no comércio. Não foram verificadas diferenças na excreção
urinária, assim como na retenção de fluidos nos diferentes períodos do ciclo
menstrual. Estes resultados sugerem que a reposição aguda dos líquidos perdidos
pela sudorese devido ao exercício praticado em ambientes quentes não é afetado
pelo ciclo menstrual. Também as mulheres não apresentam diferenças comparadas
ao homem, no que concerne à rápida e completa reposição das perdas hídricas
induzidas pela sudorese.
Conclusão
A completa restauração do balanço hídrico após a prática esportiva
é um fator importante no processo de recuperação e torna-se mais importante
quando as condições ambientais são desfavoráveis (calor e elevada umidade
relativa do ar). A segunda série de exercícios deve ser executada após um
intervalo curto, portanto, a velocidade e a repleção hídrica é de vital
importância. A reidratação após o exercício não deve se restringir ao volume de
água perdido, mas, também a reposição de eletrólitos, principalmente o sódio
que é eliminado em grandes quantidades através do suor. A composição do suor
apresenta grandes variações individuais; porém, teoricamente, este deve ser
semelhante ao líquido reidratante, embora, na prática isto seja quase
impossível. Fornecendo um volume adequado, os rins se incumbem de promover o
equilíbrio eliminando qualquer excesso de sódio através da urina.
A composição do suor varia não tão somente entre os indivíduos, como, também,
durante a prática esportiva e esta é diretamente influenciada pela aclimatação
(Taylor, 1986). Os valores mais encontrados para sódio e potássio no suor são
respectivamente, de 50 mmol/L e 5 mmol/L. As bebidas formuladas especificamente
para reidratação devem supostamente conter mais eletrólitos do que aquelas
elaboradas para consumo durante o exercício.
Quando são perdidas grandes quantidades de suor, a perda total de sódio também
é alta; 10 L de suor a uma concentração de 50 mmol/L, correspondente à 29g de
NaCl.
Entretanto, a ingestão de um excesso moderado de sódio é benéfico no que se
refere à reidratação. Este excesso não apresenta efeitos deleteriosos para a
saúde, pois uma ingestão de fluidos em quantidade superior às perdas pela
sudorese é compensada pelos rins.
Os resultados de diversos estudos demonstraram claramente que a reidratação
após o exercício pode ser conseguida se for feita a reposição de água e
eletrólitos. A Solução Reidratante Oral (SRO) recomendada pela Organização
Mundial da Saúde para o tratamento de diarréias tem um teor de sódio de 60 a 90
mmol/L refletindo as elevadas perdas de sódio que ocorrem em alguns tipos de
diarréia.
Em contrapartida, a maior parte das bebidas para esportistas tem entre 10 a 25
mmol/L (Maughan, 1991) e em alguns casos, até menos. A maior parte dos
refrigerantes praticamente não contém sódio e são, portanto, ineficazes quando
é necessária uma reidratação drástica. O problema da elevada concentração de
sódio nas bebidas é o seu sabor que promove uma diminuição de seu consumo. Por
outro lado, quando o teor de sódio é baixo e a bebida não é eficiente para
reidratação e, também reduz o estímulo para beber.
A adição de uma fone energética não é necessária para reidratação, porém, uma
pequena quantidade de carboidratos melhora a absorção intestinal,
conseqüentemente, a do sódio e da água, além de torna-la mais palatável. Quando
as perdas de suor são grandes, a reidratação com soluções contendo carboidratos
provoca alterações no balanço energético. Por exemplo, 10 L de refrigerante
fornece aproximadamente, 1.000g de carboidratos, ou seja, o equivalente a 4.000
kcal. O volume de refrigerante consumido pode ser maior do que aquele perdido
pela sudorese para compensar as perdas obrigatórias através da excreção
urinária e a palatabilidade dos refrigerantes é o principal responsável.
Por outro lado, a ingestão somente de água é inadequada para a reidratação,
porém, quando outro alimento é ingerido, pode ocorrer uma compensação no
fornecimento de eletrólitos perdidos pelo suor. No entanto, existem situações
em que a ingestão de alimentos sólidos deve ser evitada. Este fato ocorre
naqueles esportes em que os competidores são classificados pelo peso e o tempo
entre a pesagem e a competição é curto; também isto aplica-se a aqueles
esportes nos quais a série de disputas tem um hiato de tempo curto entre uma e
a outra. É particularmente importante nesses casos que os eletrólitos estejam
presentes na bebida ingerida. A ingestão de um fluido com eletrólitos é também
importante em muitas situações não esportivas, principalmente, quando o
indivíduo está em um ambiente quente,que provoca um aumento na ingestão de
líquidos.Este fato já foi observado em estudos laboratoriais.
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